A Bahia, eterna vitrine do turismo nacional, apresenta um quadro de reformas e posicionamentos que fariam D. João VI questionar se está de volta ao Brasil Colônia ou se o tempo finalmente apertou. De um lado, a Costa do Sauípe, que por anos cultuou o mito da exclusividade para poucos, agora se converte ao credo do entretenimento em massa, com a reforma bilionária (R$ 770 milhões até 2028, segundo a administradora Aviva) focada na experiência “all-inclusive” e na promessa de um parque aquático colossal para 2027. É a democratização do privilégio, onde o antigo complexo de resorts se desdobra em alas de diferentes categorias, de ‘Grand Premium’ (como o Sol e o Brisa, renovados com arquitetura que flerta com o provençal e o clássico, e serviço de garçom na espreguiçadeira) a ‘Econômico’ (o futuro Mar Premium), garantindo que o hóspede nunca precise sair do perímetro da mordomia.

O projeto de Sauípe, que moderniza quartos (como as 256 suítes do Sol, agora com design contemporâneo) e turbina a gastronomia com cozinhas show e rótulos premium nas bebidas, parece ser o atestado de óbito de uma fase do turismo. O objetivo é claro: maximizar a ocupação e o tíquete médio, mantendo o cliente sob a bandeira do “tudo incluído”, onde a única decisão difícil é escolher entre o churrasco, a paella ou o acarajé servido no quiosque da baiana.

A Sedução Sustentável de Trancoso
Enquanto Sauípe abraça o volume, Trancoso, no Sul da Bahia, reafirma o luxo em escala artesanal, mas com um verniz de propósito. A Pousada Tutabel, integrante da coleção OCanto, ostenta o título de refúgio “pé na areia” na Praia de Itapororoca com apenas 16 suítes e uma villa, oferecendo a privacidade de uma fazenda, mas com vista para o mar.

O sarcasmo mora na estratégia: a Tutabel vende o “turismo regenerativo”. Mais do que preservar (o básico, esperaria-se), o empreendimento propõe-se a “restaurar” ecossistemas da Mata Atlântica e promover o bem-estar da comunidade. Para o hóspede de alto padrão, essa é a nova etiqueta moral para justificar a diária. O luxo não é mais suficiente; é preciso ter uma causa para ostentá-lo.

A pousada não economiza no conforto: o café da manhã é servido a qualquer hora e lugar, o enxoval é Trousseau e a gastronomia, sob o comando da chef Aimona Catarina, é local, sazonal e abastecida por uma horta própria dentro da Reserva Público Privada Natural Rio do Brasil. No fundo, a Tutabel oferece ao milionário o privilégio de se sentir um ecologista engajado enquanto degusta um drinque autoral à beira da piscina climatizada. É o luxo despretensioso que sabe que a verdadeira exclusividade é a sensação de fazer a coisa certa.
Em 2025, o turismo baiano se consolida em dois polos opostos e complementares: o all-inclusive que tenta refinar o popular (Sauípe) e o retiro exclusivo que se veste de ética ambiental (Tutabel). Ambos, no entanto, vendem o mesmo sonho: a ilusão de que a fuga da realidade pode ser comprada, embalada e, agora, até mesmo ecologicamente correta.




